terça-feira, 15 de outubro de 2013

Decomposição

exergo as ideias permeando minha imaginação
enxergo na inspiração minhas limitações
pelo que, porém, também chego a atribui-la algum valor

meu incontentamento, portanto,
o de vagar no vazio
acreditando na (im)possibilidade de construir algo belo
perante a inconcretude de meu talento - posto em dúvida
                                                           posto em dívida
                                                           com meu próprio eu




sexta-feira, 30 de agosto de 2013

E eu cá, convicto de que não me emocionaria...

Após a tensão para obtenção do visto e uma semana dedicada aos preparativos para a viagem, cessam os planos e se iniciam as experiências imediatas. Digo isso, pois, ainda que não tenha embarcado, já tive o contato com primeiro teste do intercambista, o de ter que dar o adeus para as pessoas queridas.
Pensava eu que seria fácil, afinal logo estou voltando e tenho certeza que o tempo corre muito mais rápido lá do outro lado. Porém, acho que menosprezei um pouco a situação.
Não há nada mais bonito – e posso dizer que experimentei isso nesses últimos dias – de sentir, com sinceridade, o apoio dos amigos e da família.

Esta viagem foi uma oportunidade para evidenciar relações já concretizadas. Um momento em que é permitido declarar a importância que cada pessoa tem na sua vida e você na dela.
O texto é um tanto piegas, talvez por se tratar de um período de 6 meses não merecesse tanto sentimentalismo, mas é o que senti.

Agradeço a todos os parentes que me ligaram desejando boa viagem, rezaram para que toda a documentação fosse devidamente regularizada, que me ajudaram na arrumação das malas.
Meus pais e irmãos que a todo o tempo me incentivaram. Avós e tios que me deram suporte.
Agradeço a todos os amigos que me apoiam e manifestaram o real carinho por mim. Sei que muitos não puderam comparecer à confraternização por motivos variados e agradeço a mensagem desejando sucesso na viagem.
            Agradeço aos amigos que pude despedir ontem no bar e que a presença de todos me deixou muito feliz.

Parece que às vezes precisamos da despedida para poder compreender como as pessoas são importantes nas nossas vidas. Somos escravos da “falta”. Em momentos como esses vemos que devemos mesmo é valorizar o que temos, mas sempre nos esquecemos.
Uma simpática ironia; Fiquei feliz de ver em muitos o pesar de se privar temporariamente de minha companhia, saber-se importante para os outros é muito bom.

Aos amigos bêbados que me escreveram os recados no bar ontem, muito obrigado pelas mensagens. Li antes do voo, contrariando o que me foi pedido. Alguns não tinham muito nexo, outros podia compreender a essência, mas a letra era ruim. Enfim, valeu a oportunidade! Haha

 Em especial, um abraço para meus amigos Igor e Marcela, os pais jovens. Infelizmente não estarei presente para ver o Manoel lançar seus primeiros olhares no mundo e poder segurá-lo após o nascimento. Porém, estarei acompanhando tudo do outro lado, e é certo! Me prometeram a maior cobertura via Skype que poderíamos conhecer em tempos digitais. Estarei torcendo de “perto” pelo sucesso de tudo e pela felicidade de vocês.
Estou muito ansioso, com muita expectativa. Agora em cima da hora da um medo, quase que parece que é um sentimento ruim. Mas é isso que faz ficar bacana.
E o recado é esse, toda essa sensação confusa da felicidade de embarcar nesta viagem e da tristeza de despedir dos amigos e família, é o que nos move. É isso que nos faz sentir vivos.
Afinal, “são só dois lados da mesma viagem”. Agora estou partindo daqui, estou chegando lá. E logo estarei voltando.

Até logo, pessoal!



Até logo, pessoal!


quarta-feira, 17 de abril de 2013

PÉTALAS





                                             As pétalas não caem por descaso
                                             Trabalham por proteger
                                             Atraem para viver, sua função
                                             útil - até a fecundação
                                             inútil, seca...

                                             As pétalas não caem por descaso
                                             E não há destino mais trágico
                                             Do que ter de morrer pra descansar


                                             - ah...  mas é belo, como é belo!

                                                                                               Rodrigo Gomes

sábado, 6 de abril de 2013

Lucas Santtana e o Deus Arrebatador




O músico Lucas Santtana – que carrega o fado de ser quase homônimo de um outro músico famoso na mídia – lançou em março do ano passado o último de seus discos produzidos, “O Deus que Devasta Mas Também Cura”.
Para um desconhecedor de seu trabalho, uma das primeiras reações ao ler o nome do artista é a de relacioná-lo ao cantor de sertanejo-universitário, Luan Santana.
Outros podem vir a ler/escutar seu nome ou conhecer a imagem do músico pela primeira vez, quando citado como atual namorado da atriz Camila Pitanga.
Alguns mais afinados, ou melhor dizendo, mais empáticos ao cenário cult da música brasileira - vertente de onde Lucas é oriundo – podem o reconhecer como o sobrinho do renomado músico tropicalista, Tom Zé.
Apesar de todas essas referências, Sattana vem trilhando seu caminho com independência e crescendo cada vez mais no cenário musical alternativo. Seu trabalho é muito bem recebido pela crítica e conhecido tanto nacionalmente como internacionalmente.


                                                                        --------------


O “Sem Nostalgia” (2011), quarto de seus cincos discos produzidos, atingiu o topo das listas de revistas e sites internacionais especializados e foi sucesso de crítica nos jornais e revistas brasileiros.
O mesmo aconteceu com seu novo disco, “O Deus que Devasta Mas Também Cura” (2012) que aplacou críticas positivas por todo o mundo, culminando em uma turnê pela Europa.
O disco também teve boa repercussão entre os críticos brasileiros e esteve presente no ranking dos 20 melhores discos de 2012 realizado pela revista “Rolling Stones”.
A turnê do disco no Brasil teve início no começo deste ano.

“O Deus...” se apresenta como o disco mais amadurecido de Lucas, com participação de músicos de qualidade como a cantora Céu e o baterista Curumin. Também conta com arranjos e regência de Letieres Leite e a participação da Orkestra Rumpilezz.
Diferentemente de seus outros discos, neste último, Santtana se utiliza de uma textura mais romântica e acaba por produzir letras de natureza profunda ancoradas por harmonias bem construídas e arrebatadoras.  
Tendo característica mais intimista, Lucas produz um disco onde as emoções estão à flor da pele, resultante de seu recente divórcio com a editora e livreira Anna Dantes, com quem teve seu filho Josué. No encarte, dedica o disco à ex-mulher e ao filho.



A música “O Deus que Devasta Mas Também Cura”, que dá nome ao álbum, remete ao dia em que deixava a casa de sua ex-mulher e ocorria uma das maiores tempestades da história do Rio de Janeiro. O arranjo da música causa sensações diversas, sendo acompanhada por um tom melancólico que embora presente no refrão da canção, deixa a impressão de algo que é retirado do peito, a sensação de alívio após um desabafo.
Podemos notar, refletida na letra da música, a influência do divórcio quando demonstrada a preocupação com a situação do filho - “ (...) ó sol! proteja o menino”.


                                                                                 Capa do disco 
"O Deus que Devasta Mas também Cura"


Josué participa na autoria da canção “Dia de Furar Onda no Mar”, na qual contém trechos do livro “ABC de Josué”, feito por seus pais com base na definição e significado que o menino - na época com 5 anos -  atribuía às palavras.
Como nos trechos - “réveillon é o nome de uma empresa / contemporâneo é alguém sem coração” - retirados do livro.

Em duas das músicas do disco ele faz homenagem às cidades de Belém - em “Ela é Belém” - e São Paulo com “Se Pá Ska S.P.”.
“Vamos andar pela cidade” compõe o disco sendo a única totalmente instrumental.

A música “Para Onde Irá Essa Noite?” tem uma levada parecida com a canção que abre e dá nome ao disco, tendo letra instigante carregada por uma angústia de algo não resolvido pairando sobre o ar.

A canção narra a história de uma pessoa que em determinada festa conhece outra e inicia uma relação de desejo , com direito a todos os sinais de afinidade e reciprocidade  entre os envolvidos. Porém, todo o desenvolvimento da relação é cortado pela raiz no momento em que se descobre que essa outra pessoa já se encontrava em um relacionamento.
O tom poético vem da melodia e harmonia suave, que acompanha o desenrolar da relação em que os personagens presentes na música vão se conhecendo até o momento em que é quebrado pelo refrão voraz, embalado pelo solo de guitarra ao fundo, que consome todas essas sensações de não concretização da relação. Este descontentamento e incomodo é retratado na letra da música “o que não pode ser, não pode ser/ mas deixa no ar esse algo bom/ que não conclui/ sei que algum dia pode acontecer/ mas nunca terá o ar tão único/ dessa noite.”

                                                                 --------------


O resultado disto tudo é um excelente disco, profundo, intimista, bem produzido, editado e gravado, com participação de grandes profissionais reconhecidos no meio musical.
O músico Lucas Santtana consegue alcançar com seu trabalho um patamar de alto nível de qualidade, colocando à prova a crítica de que a nova geração da música brasileira não tem rendido bons frutos.
A grande questão muitas vezes, é o reconhecimento. Seu trabalho tem mais repercussão na crítica do que público. Porém, a impressão é que muito dessa situação é de próprio interesse do músico, uma vez que opta por trilhar o caminho por seus próprios pés. sem depender do mercado de consumo musical de massa. Esta situação acaba por aproximar mais seu público e proporciona uma atmosfera sincera que transmite fielmente a mensagem e sensações que busca passar em suas músicas. A reduzida repercussão de sua música pelas multidões ou sucesso mercadológico que poderia devasta-lo, é, na verdade, a cura ou senão até mesmo o propulsor de sua carreira.

Santtana que toca violão, guitarra, baixo, cavaquinho e flauta transversa, mostra que há em atuação, pessoas que prezam pela música de qualidade, fabricando e trabalhando com a arte por amor a profissão. Como o próprio músico costuma terminar algumas postagens em sua página de facebook ou em seus autógrafos, termino dizendo o que o disco “O Deus que Devasta Mas Também Cura” deixa de mensagem junto com todo o legado do cantor.
“- Som sempre!”

Seus discos estão todos disponibilizados para download gratuito em sua página na internet http://lucassanttana.com.br/





                                                           Por Rodrigo Gomes Pereira

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sonhos

Ùltima música que compus - Sonhos













Sempre imaginei
que a mente fosse só quimera, ideias
Debaixo de meus olhos
campos ilusórios fabricando estórias
de um rapaz conhecido

Nem pensei, que os sonhos
invadem a vida, sem avisar...

Eu ando pelas ruas e passeios
a alimentar a alma de devaneios
Enfrento o maior medo
que é encontrar a realidade
prostrada em frente a mim

E pensei, que a vida
recria os sonhos
para avisar...

Qual é a cor dos olhos daquela mulher que sonhei?
Estávamos apaixonados
E de quantos precipícios despenquei
e acordei, temendo a vida
e os sonhos maldosos

Se é ilusão, já nem sei
O que é vida
Pois os sonhos ajudam a
me conhecer bem...

Debaixo de meus olhos
campos ilusórios fabricando estórias
de um rapaz conhecido
que era eu...



                                                             

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Primavera dos apaixonados


A verdade mesmo é que ninguém se importa qual a estação, o indivíduo aprecia qualquer dia, qualquer época, desde que esteja bem consigo mesmo. A natureza dialoga com a vida, mas é apenas coadjuvante ao pé do dia.
O garoto estava ardendo em amores, e tirou a sorte grande de se apaixonar na primavera. É para poucos...
Caminhava pela rua afora a divagar sobre sonhos de beleza fugaz. Há de estar em cada um a primavera dos apaixonados, escondida no fundo do peito, mas tão frágil a ponto de, com qualquer esbarrão se desabrochar de amores.
Olhava o caminho trilhado de maneira singular, a beleza se fazia num simples passo vazio e o som dos carros passando. Quando as flores caindo sobre o asfalto deixando todos os problemas possíveis junto ao cimento sem graça, colorido por pétalas amarelas.

Em casa, cumprimenta os pais - a doce mania de esconder quando se está apaixonado – sobe para o quarto e prepara a cama com mínima vontade de adormecer. O travesseiro de sempre, é mole demais para a ocasião e o incomodo aumentado pela ansiedade na espera do dia seguinte.

- Acorda filho, ta na hora da aula! , exclamava a mãe do garoto
Este, embora fosse detentor de um habitual mau-humor matinal, acordara com sorriso relaxado no rosto
- Ô mãe, brigado por me acordar..., disse esfregando os olhos
Rapidamente se levantou, e se arrumando ia oscilando da respiração ofegante com a sensação de mais completa ternura.

A manhã era de um sol claro o suficiente para deixar um mau sujeito com vontade de distribuir sorrisos.
No caminho para escola, o garoto ia passando a mão entre as flores, bonitas espalhadas por todos os cantos. Todos o cumprimentavam com belo sorriso matinal.
 Ocorreu-lhe a ideia de coletar algumas destas para presentear sua namorada.
Com cautela e a maior perícia de quem não conhece nada sobre flores, ia analisando uma a uma no caminho de modo a escolher a mais bonita, a mais bonita que pudesse existir.
Uma flor, em particular, lhe chamou atenção. Era uma flor azul, uma cor muito bonita.
Parecia-lhe uma rosa de cor azul, mas não sabia ao certo. Ouvira certa vez que rosas azuis nunca existiram senão fruto de variações genéticas, mas nunca naturalmente. Mas esta parecia ser natural.  Solitária em meio a um enorme terraço vazio - com ar de abandonado - e sem grades de uma casa velha. Parecia a única coisa a iluminar o local.
Foi logo ao seu encontro, extasiado pela descoberta de flor tão bela. Após um pouco analisar, decidira que era esta mesmo que iria levar. Num puxão, arrancou a única flor do terreno de sua raiz. Súbito todo o céu se tornou negro, esfumaçado.
No mesmo momento escutou um enorme gemido vindo de dentro da casa velha. Um grito de extrema dor ecoou pelo terraço, emitido pela mesma voz que em seguida começava a pronunciar dizeres de profunda revolta e denúncia.

- Ladrão! Seu ladrão de merda! O que você esta fazendo no meu jardim?! Volte já aqui!

Era uma voz feminina, rouca, que apesar de se reconhecer como voz de mulher, podia-se até confundir com a de um homem rabugento e agressivo. Toda esta barulheira vinha acompanhado com o latido enjoado de um cãozinho ao fundo.
O garoto assustado, sem saber o que fazer, segurou a flor com força e resolveu correr. No primeiro arranque, sem conseguir olhar para o lado, trombou com uma mulher na faixa de 30 anos, que tentou segurar-lhe pelo braço ao ouvir o grito de ameaça. Esguio e ágil o menino se desvencilhou da moça e continuou em sua fuga.
Nessa hora a velha da casa abandonada já havia aparecido do lado de fora de seu quintal e começava a gritar e apontar para o menino.
- Pega ladrão! Ele me roubou!
Quando outra pessoa, agora um homem magro tentou agarrar-lhe os pés, e, não conseguindo, começou a correr atrás do garoto.
O menino corria já sem saber para onde, e também sem saber por que fugia. Já estava correndo sem pensar com as pernas e iam escorrendo lagrimas no canto de seus olhos.
Então, um homem forte, com uniforme de policial, apanhou o menino pelo pescoço e deitou-o no chão.
Logo uma multidão, que não se sabe donde apareceu, se formou em volta do garoto que era atacado por olhares ferozes o julgando.
O burburinho criado expelia todas as vozes para o centro em direção ao menino

- Ora, se ele não estava procurando algo... pois achou! – comentou alguém na multidão
- É, nunca mais tente a sorte, garoto! – exclamou outra voz

Quando o garoto com os olhos abarrotados de lagrimas enxerga todas as pessoas com expressões melancólicas e sorrisos tristes distorcidos... Todos a dar imensas, intermináveis gargalhadas.
Esta cena ia se tornando cada vez mais agoniante, e todos vinham se aproximando mais  e mais. E suas formas já não eram mais humanas...
Ele então começa ser atacado por todos os lados, entre pontapés e socos, ia sucumbindo à sua própria tristeza.
A multidão de repente cessou os ataques, abrindo espaço para a rua.
Uma garota vinha caminhando lentamente, com o rosto um pouco cabisbaixo, e seu rosto não se apresentava nítido, não podendo identificar quem vinha vindo. A menina, que apresentava uma estranha mistura de ternura e escuridão, vinha arrastando a flor azul pelo chão...
Quando o garoto sente uma enorme punhalada em sua nuca, perdendo momentaneamente sua visão e o levando a perder o fôlego, não conseguindo buscar o ar por alguns segundos.
Num enorme solavanco, ele se levanta.

Acordava com elevada temperatura, suando entre seus cobertores. Põe a cabeça em direção a janela. Estava escuro.

Era inverno, e ele não tinha uma paixão.